À MESTRA, COM CARINHO
ENVIADO POR ARTUR XEXÉO
ENVIADO POR ARTUR XEXÉO
COLUNA DA REVISTA O
GLOBO (14/9/2014)
Desde adolescente, sempre quis ter um
professor como Sidney Poitier. Para quem não está ligando o nome à pessoa,
Poitier é um artista americano que, entre outros feitos, tornou-se o primeiro
negro a ganhar um Oscar de melhor ator, com o filme “Uma voz nas sombras”. Mas,
para mim, ele vai ser sempre o professor Mark Thakeray, que, no filme “Ao
mestre, com carinho”, conquistou uma turma de adolescentes desajustados
numa escola pública na parte mais pobre de Londres. O professor Thakeray corta
um dobrado para receber a atenção de seus alunos, mas era tão bom que a turma
acaba homenageando-o na festa de fim de ano e sai da escola com a consciência
de que suas lições foram para toda a vida.
Na falta de Sidney Poitier, servia
uma professora como Sandy Dennis. Não sei se vocês se lembram dela. Sandy também
ganhou um Oscar, o de atriz coadjuvante por sua interpretação em “Quem tem medo
de Virginia Woolf”, realizado no mesmo 1966 de “Ao mestre, com carinho”. Mas,
para mim, Sandy vai ser sempre a professora Sylvia Barrett, de “Subindo por
onde se desce”, um filme em que ela ensina a viver um grupo de alunos de uma
escola na parte mais barra pesada de Nova York. Era o primeiro emprego de
Sylvia. Serviria como estágio. No fundo, ela queria passar logo por aquela
provação e ir para uma escola mais organizada. Mas ela descobre que é ali que
os garotos precisam dela e resolve continuar.
“Ao mestre, com carinho” e “Subindo
por onde se desce” são filmes de um gênero que me toca de uma maneira
especial. São “os filmes-nos-quais-um-professor-muda-a-vida-de-seus-alunos-e-eles-se-mostram-gratos-por-isso”.
Talvez, para quem chegou aqui há menos tempo do que eu, o filme mais
significativo dessa série seja “Sociedade dos Poetas Mortos”, com Robin
Williams interpretando o professor John Keating. Tudo bem. Na impossibilidade
de contar com Sidney Poitier ou Sandy Dennis, eu não me importo de admitir que
sempre quis ter um professor como Robin Williams.
Esses filmes são sempre comoventes.
São daqueles que te fazem sair do cinema chorando. Aquele tipo de relação entre
professor e aluno, o impacto que o mestre provoca no estudante, as lições de
vida que são dadas à turma, mas que servem para o espectador também, tudo é
escrito para te emocionar. São coisas de cinema. Não acontecem na vida real.
Na semana passada, já burro velho,
descobri que esse encontro único entre mestre e aluno pode estar mais perto do
que eu imaginava, numa escola logo ali, muito longe de Londres ou Nova York. É
mais real do que o mostrado numa tela de cinema. Foi quando li aqui no GLOBO a
reportagem de Gabriela Lapagesse sobre a ação dos alunos do Colégio Carolina
Patrício, na Barra da Tijuca. Sabendo que a professora de português e
literatura Norma Ribeiro do Carmo iria se submeter a sessões de quimioterapia
para se livrar de um câncer, eles rasparam a cabeça em solidariedade à mestra.
A foto de Marcelo Carnaval em que a professora, já com os cabelos curtinhos, é
cercada por 18 adolescentes de cabeça raspada me fez chorar. Como eu chorava
nos filmes de Sidney Poitier, Sandy Dennis e Robin Williams. Mas o choro
desta vez foi provocado por uma notícia de jornal, não por um roteiro de
cinema. Como deve ser boa essa professora! E eu, depois de tanto tempo,
descobri que, na verdade, eu sempre quis ter uma professora como Norma
Ribeiro do Carmo.
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