sábado, 17 de outubro de 2020

FOLCLORE JAPONÊS - A TECELÃ DE NUVENS

A TECELÃ DE NUVENS
FOLCLORE JAPONÊS

Há muito tempo atrás, em uma terra do sol nascente, morava um jovem agricultor, seu nome era Sei, e ele estava preparando suas terras para o plantio. Sei vivia sozinho e triste, pois a mãe, que era tecelã, havia falecido e ele fazia e não havia ninguém para ajudá-lo a cuidar de suas terras. Naquele dia, Sei estava semeando e, de repente, viu uma cobra rastejando no chão.

           

Sei percebeu que a cobra deslizava em direção a uma moita de crisântemos, onde havia uma aranha suspensa em um fio de sua teia. A aranha fez Sei lembrar de sua mãe - pequena e indefesa - e imediatamente levou a cobra para longe da aranha com seu ancinho. A aranha ficou surpresa com a bondade de Sei e olhou para ele, porém ele não percebeu, pois já havia voltado ao seu trabalho.

Passaram-se alguns dias e uma jovem bateu em sua porta. Ela se curvou e lhe perguntou se ele estava precisando de uma tecelã. Sei ficou surpreso pois realmente precisava, mas não havia comentado isso com ninguém e perguntou para a jovem:

- Como sabe que preciso de uma tecelã?

E a jovem respondeu tímida:

- Apenas sei. Ficarei muito contente se puder ajudá-lo.

Muito feliz e grato, Sei levou a jovem para o quarto de tecelagem de sua mãe. Enquanto a jovem tecia, Sei continuava seu trabalho no campo.

À noite quando Sei voltou para casa, bateu no quarto de tecelagem e perguntou:

- Terminou alguma obra?

A jovem abriu a porta revelando uma dúzia de belas peças de tecidos, suficiente para um kimono.

- Impossível, como pôde fazer tantas em tão pouco tempo? - perguntou Sei.

- Prometa-me que não vai nunca mais fazer essa pergunta e nunca entrará no quarto enquanto eu estiver trabalhando - respondeu a jovem.

- Prometo - respondeu Sei.

Dia após dia, Sei descobria que a jovem tecia peças cada vez mais bonitas e delicadas. Em um dia implorou à jovem:

- Por favor diga-me como consegue fazer essas peças tão belas.

A jovem apenas respondeu:

- Lembre-se de sua promessa.

Semanas depois a curiosidade de Sei venceu. Ao retornar à sua casa viu a janela do quarto de tecelagem aberta e pensou que não estaria quebrando a promessa se desse uma espiada. Quando olhou pela janela Sei quase desmaiou.


Diante do tear não havia uma jovem, e sim, uma enorme aranha de oito pernas. Sei olhou de novo pois era difícil acreditar. Lembrou-se da pequena aranha que havia ajudado e entendeu que essa era a sua recompensa.

Sei não sabia como expressar o tamanho da sua gratidão, ao mesmo tempo não queria que soubesse que tinha quebrado a promessa.

No dia seguinte, Sei partiu para uma aldeia distante em busca de algodão. Comprou e colocou o pacote em suas costas. Cansado do peso, Sei parou para descansar em uma pedra. Sei cochilou e não viu a mesma cobra que ele havia expulsado semanas atrás. A cobra o viu e não perdeu a chance, entrou no pacote de algodão.

Quando chegou em casa Sei entregou o pacote para a jovem. Ela se curvou agradecendo, sorriu e voltou para o quarto de tecelagem.


No quarto a jovem se transformou na aranha e começou a consumir o algodão, engolindo-o o mais rápido possível para que pudesse girar em fio de prata. Quando chegou ao final do pacote, inesperadamente, a cobra apareceu abrindo a boca.

Aterrorizada, a aranha saltou pela janela. Mas a cobra a alcançou.

Quando estava prestes a engoli-la, um raio de sol que atingia o punhado de algodão que saía pela boca da aranha, levantou-a e puxou para o céu.

Para mostrar sua gratidão, a aranha usou o algodão que havia engolido, não para tecer pano mas para tecer flocos de nuvens no céu.

Por isso, no japonês a palavra "kumo" significa nuvem e aranha. Embora os kanji sejam diferentes a pronuncia é a mesma.





 FIM

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