A RÃ DO POÇO
ILAN BERNMAN
Tal história é
encontrada em diversas compilações de contos indianos, e alguns relatam que o
grande mestre Ramakrishna a contou a seus discípulos:
No
período das moções, com as fortes e persistentes chuvas, uma cidade próxima ao
sagrado rio Ganges foi toda alagada: as ruas, os mercados e as casas. Quando a
chuva cessou e as águas começaram a baixar, um pequeno girino foi parar no poço
de um pequeno casebre.
O
girino cresceu e viveu por toda a vida em tal poço. Ao tornar-se uma rã, não se
lembrava mais de onde tinha vindo; sua realidade agora era aquele lugar seguro
e acolhedor.
Certa
manhã, uma rã estrangeira ouviu um som vindo do poço e resolveu averiguar:
-
Olá, tem alguém aí? – perguntou a rã estrangeira.
A rã
do poço tirou rapidamente a cabeça de dentro da água e gritou:
- Sim, estou aqui! Quem é você?
- Sou
uma rã, assim como você? – respondeu a estrangeira.
Curiosa,
a rã do poço perguntou:
- E
de onde você vem?
-
Venho de Calcutá.
- E
essa tal Calcutá é grande?
A
estrangeira esboçou um sorriso e respondeu.:
-
Imensa, gigantesca, colossal!
- Ela
é maior do que isto?! – e se esticou o mais que podia.
A
estrangeira não agüentou e gargalhou:
-
Minha irmã, muito maior do que isso!
A rã
do poço começou a ficar furiosa e perguntou:
-
Calcutá é maior do que o meu poço?
A
estrangeira, que agora não parava de rir, respondeu:
-
Infinitamente maior do que o seu poço!
A rã
do poço, tomada pela fúria, respondeu:
-
Nada pode ser maior do que o meu poço, sua mentirosa!!!
Vá
embora, não a quero mais por perto!
A
estrangeira se afastou e a rã do poço continuou a viver no seu amado e tranquilo
lar até a morte.
O
sábio que relatou esta história disse, ao seu final:
-
assim são os homens: pensam que aquilo que não vêem não existe.
fim
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