A
LIÇÃO DO MESTRE
CONTO CHINÊS
P”u Sung-ling
Certa
vez um fazendeiro foi até uma vila vender suas pêras no mercado. Elas eram tão
doces que fizeram fila para comprá-las. O fazendeiro sentia-se satisfeito com o
lucro de sua colheita, quando, repentinamente, um velho monge taoísta, trajando
um manto puído, de algodão, colocou-se à sua frente e lhe pediu uma pêra de
presente. O fazendeiro ficou furioso.
- Por que o senhor não compra a fruta, como
todos os outros? Eu não acredito na caridade, eu não ajudo ninguém! Se o senhor
quer comer, que trabalhe, como eu!
- Caro amigo, meu trabalho é importante,
mas nem sempre produz dinheiro, como o seu. Sua carroça está lotada de peras,
que falta lhe faria uma única fruta?
Nisso, uma multidão já havia se reunido
para ouvir a conversa.
- Por que o senhor não dá ao monge aquela pêra
um pouco machucada que está no cantinho do cesto? – sugeriu um passante.
Mas o fazendeiro, irado, gritou para chamar
a polícia:
- Prendam esse vagabundo! Ele decretou.
Porém, o guarda, que aprendera artes
marciais com os velhos monges taoístas, aproximou-se, comprou uma pêra e a
entregou ao sábio, fazendo-lhe uma
respeitosa reverência.
- Nós, os monges, que abandonamos os
caminhos do mundo para rezar e meditar, sentimos muita dificuldade em
compreender a avareza e a falta de generosidade. Vejo ao meu redor várias
pessoas sem recursos. Por favor, senhor fazendeiro, permita que eu os alimente
com suas peras.
Então, no lugar de comer a pêra que o
guarda havia lhe dado, o velho monge abriu a fruta e lhe retirou as sementes,
plantando-as no solo. Depois, pediu que lhe dessem um pouco de água para
regá-las.
Em seguida, sentou-se calmamente e
aguardou. Em menos de um minuto um broto começou a surgir, que rapidamente se
transformou no tronco de uma bela pereira, que logo produziu frutas bem mais
saborosas do que aquelas que o fazendeiro trouxera para vender. A multidão
aplaudiu feliz aquela bela árvore que nasceu das mãos mágicas do monge e mais
felizes ainda ficaram as pessoas quando o sábio colheu as peras e as distribuiu
entre todos os que o cercavam.
Assim que percebeu que as pessoas estavam
satisfeitas, o monge apanhou uma pá e arrancou a árvore do solo. Depois,
colocou a copa da pereira nos ombros e partiu feliz e contente, sem dar a menor
explicação.
Foi quando o fazendeiro, que assistira a
tudo aquilo espantado, notou que todas as peras haviam sumido de sua carroça.
Aliás, a carroça também havia desaparecido. Envergonhado por sua avareza, ele
compreendeu que a madeira da carroça fora transformada pelo monge em tronco de
árvore e que suas peras haviam saciado a fome de muita gente necessitada. Cabisbaixo,
ele voltou caminhando para suas terras, enquanto a história da pêra mágica
percorria o mercado, provocando muitas gargalhadas.
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