sábado, 1 de novembro de 2014

A LIÇÃO DO MESTRE - CONTO CHINÊS

A  LIÇÃO DO MESTRE
CONTO CHINÊS
                                                                                                                    P”u Sung-ling

Certa vez um fazendeiro foi até uma vila vender suas pêras no mercado. Elas eram tão doces que fizeram fila para comprá-las. O fazendeiro sentia-se satisfeito com o lucro de sua colheita, quando, repentinamente, um velho monge taoísta, trajando um manto puído, de algodão, colocou-se à sua frente e lhe pediu uma pêra de presente. O fazendeiro ficou furioso.
- Por que o senhor não compra a fruta, como todos os outros? Eu não acredito na caridade, eu não ajudo ninguém! Se o senhor quer comer, que trabalhe, como eu!
- Caro amigo, meu trabalho é importante, mas nem sempre produz dinheiro, como o seu. Sua carroça está lotada de peras, que falta lhe faria uma única fruta?
Nisso, uma multidão já havia se reunido para ouvir a conversa.
- Por que o senhor não dá ao monge aquela pêra um pouco machucada que está no cantinho do cesto? – sugeriu um passante.
Mas o fazendeiro, irado, gritou para chamar a polícia:
- Prendam esse vagabundo! Ele decretou.
Porém, o guarda, que aprendera artes marciais com os velhos monges taoístas, aproximou-se, comprou uma pêra e a entregou ao sábio, fazendo-lhe uma  respeitosa reverência.
- Nós, os monges, que abandonamos os caminhos do mundo para rezar e meditar, sentimos muita dificuldade em compreender a avareza e a falta de generosidade. Vejo ao meu redor várias pessoas sem recursos. Por favor, senhor fazendeiro, permita que eu os alimente com suas peras.
Então, no lugar de comer a pêra que o guarda havia lhe dado, o velho monge abriu a fruta e lhe retirou as sementes, plantando-as no solo. Depois, pediu que lhe dessem um pouco de água para regá-las.
Em seguida, sentou-se calmamente e aguardou. Em menos de um minuto um broto começou a surgir, que rapidamente se transformou no tronco de uma bela pereira, que logo produziu frutas bem mais saborosas do que aquelas que o fazendeiro trouxera para vender. A multidão aplaudiu feliz aquela bela árvore que nasceu das mãos mágicas do monge e mais felizes ainda ficaram as pessoas quando o sábio colheu as peras e as distribuiu entre todos os que o cercavam.
Assim que percebeu que as pessoas estavam satisfeitas, o monge apanhou uma pá e arrancou a árvore do solo. Depois, colocou a copa da pereira nos ombros e partiu feliz e contente, sem dar a menor explicação.
Foi quando o fazendeiro, que assistira a tudo aquilo espantado, notou que todas as peras haviam sumido de sua carroça. Aliás, a carroça também havia desaparecido. Envergonhado por sua avareza, ele compreendeu que a madeira da carroça fora transformada pelo monge em tronco de árvore e que suas peras haviam saciado a fome de muita gente necessitada. Cabisbaixo, ele voltou caminhando para suas terras, enquanto a história da pêra mágica percorria o mercado, provocando muitas gargalhadas.

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