ENFIADA DE MACACOS
ROBERTO COHEN EM 20 DE
NOVEMBRO DE 1999.
FONTE: LIVRO "CASOS DO ROMUALDO", DE
JOÃO SIMÕES LOPES NETO, MARTINS LIVREIRO EDITORA.
Quando estive no sertão de Goiás vi uma
cena horrível e rara, talvez única: vi uma jibóia engolir toda uma enfiada de
macacos!
Eis como:
Sabe-se que quando os macacos querem
atravessar um rio, não largo, o bando sobe a uma árvore alta, à beira d'água, e
lá uma vez em cima o capitão, que é o macaco chefe, engancha o rabo num galho
forte, dela; outro vem e engancha o rabo no terceiro, e assim por diante, até o
derradeiro; e quando assim estão todos presos, uns aos outros, e portanto
pendurados, como uma corda, nesse jeito começam a balançar-se de vaivém a
enfiada ganha impulso.
É como um pêndula de relógio ou como um
badalo de sino, tal e qual!
Quando o macaco da ponta de baixo consegue
agarrar um ramo na margem oposta, prende-se a ele firmemente, marinha pelo
tronco acima e dá um grito: então o macaco da ponta de cima - o capitão - da
outra margem solta-se e - pronto! - a enfiada atravessou o rio a pé enxuto.
Ora, uma vez, silenciosamente, para não
despertar os jacarés, eu descia em ubá um braço de rio, justamente numa das
voltas topei com uma enfiada que se balançava, para fazer a travessia.
Parei logo de moita para ver a interessante
manobra.
Num dos balanços o macaco - ponta -
prendeu-se a um galho forte de uma enorme sucupira: mas quando ia a galgar o
tronco acima, uma senhora jibóia - uma jibóia - senhorita! - abocou-o, faminta,
e já foi engolindo como quem não encontra caroço nem espinha.
Com a dor do abocanhamento o pobre macaco
gritou desesperadamente; o capitão, na outra ponta, julgando que era o sinal,
desprendeu--se e a enfiada inteira bateu na água do rio!
E tanto caíram na água, os macacos todos
taparam os ouvidos com as mãos, mas não se soltaram!
Fiquei com lástima daquela atrapalhação e
pus-me a gritar-lhes:
- Estúpidos! Soltem os rabos! Burros!
Aproveitem enquanto ela papa o primeiro! Desenganchem!
Qual! Os burros faziam caretas? Guinchavam
e não atinavam com a salvação, tão simples!
A jibóia nem o trabalho teve de mover-se:
engoliu o primeiro, o segundo, o terceiro e assim todos.
O último macaco, o capitão, que era,
portanto o único que tinha a cauda livre, quando o companheiro da frente - o
penúltimo, pois o último macaco, quando isso viu, teve um rasgo de herói, que
me comoveu até as entranhas: disse adeus de mão para os dois lados, e,
enroscando no pescoço a própria cauda suicidou-se!
A jibóia, talvez admirando aquele valente,
não o tragou; mal engoliu o penúltimo, com a dentuça atorou-lhe a cauda e então
caiu sobre a barranca o corpo ainda quente do capitão da enfiada: o suicidado.
E eu toquei minha canoinha pra diante.
Que triste fim... 😔
ResponderExcluirVerdade, mas é a sobrevivência. Pior somos nós que o fazemos só que para apresentar como troféu e gabarmo-nos como se fosse algo digno de orgulho. Adelaide
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