O VASO DE OURO
publicado por Roberto Cohen em 17/12/
2002.
Fonte: Livro "O cavalo
verde", de Luiz Coronel. Editora Mecenas, 2002.
- Mas que tal, tchê? E as Exposições, muita
festa e coisa e tal?
- Bicho velho, nem te conto. Numa noite me
enfezei com umas muchachas e saí a la gandaia. Terminei numa casa de tais
requintes, que quando fui soltar as virilhas o vaso era de ouro. Ouro maciço,
Elpídio. Até me deu um constrangimento.
- Manoelito, menos, por favor. Não te
retruco, nem te contradigo, mas vamos botar esse vaso de ouro por conta dos
tragos, mano velho.
- Tchê, tu sabes, se há uma coisa que me
embrulha a alma e arrepia os pêlos é duvidarem de mim. Vamos apostar? A gente
vai junto à capital. Mijamos no vaso de ouro, escolho um cavalo crioulo dos
teus e, afora isso, uma garrafa de Ballantines. Não mijamos, babaus, o ganho é
teu.
E o rebanho dos dias entrando no corredor
das semanas. Um dia, desses que aparecem pendurados nas folhinhas, lá estavam o
Elpídio e o Manoelito no Hotel Umbu. O nome já era uma garantia contra os
raios. E saíram pela noite, os alarifes.
Um uísque, aqui não é. Um acepipe e dois
uísques, também não. E vamos em frente, que casa noturna é o que não falta. E,
afinal de contas, a noite é uma criança.
Lá pelas três da madruga, entraram numa
espelunca onde a música deflorava os tímpanos e refestelava as pinguanchas.
Mas foi o Manoelito botar o pé no salão,
que veio o grito desaforado de um tal de Manchinha, cantor da banda
fuzarqueira:
- Mutuca, Mutuca, olha o cuera que mijou no
teu trambone.
E foi aquele pega pra capar. Voltaram
contritos para Dom Pedrito. Até hoje ninguém sabe quem pagou quem. Agora, é
freqüente ver os dois comparsas, sentados, numa cadeira de rua, tomando umas
que outras de Ballantines.
Nenhum comentário:
Postar um comentário