ENVENENAMENTO
AAS
Vou contar-lhes a história de Giovana, uma
bela jovem, de traços angelicais e delicadeza comparável à de uma flor. A jovem
pertencia a uma família tradicional, que ascendia aos tempos da Revolução
Industrial.
Um dia, como era costume no período de
férias, foi para a casa de seu avô, no interior. Era um rancho muito bonito,
com uma grande área ajardinada com belíssimas flores e arbustos, parecia um
jardim encantado, tal era a beleza do lugar.
Encantada com o espetáculo do jardim, logo
que acordou foi passear por seus caminhos, apreciando-lhe a beleza e se
inebriando com os agradáveis aromas que exalavam de seus canteiros. Curiosa foi
perguntar ao avô quem havia plantado aquele maravilhoso pequeno éden na
fazenda. O avô disse-lhe que era um jovem jardineiro que estava trabalhando
para ele á cerca de dois anos. A neta ficou atônita, pois imaginava que fosse
obra de alguém idoso e pensou que o avô se referia ao jardineiro como jovem,
mas que realmente, o mesmo deveria estar com cerca de quarenta anos, pois
pensou que o avô se estivesse usando como parâmetro, para definir a idade do
artista em flores.
No dia seguinte, foi de novo passear pelo
jardim e sentava-se nos bancos, ou nos balanços encantando-se mais com a
profusão de cores, aromas e formas que as plantas desenhavam e o sol
aproveitava-se para brincar com elas e as usava para fazer lindas formas no
chão usando-as com a sua luz e a sombra se transformava nas mais encantadoras
formas e às vezes essas formas pareciam vivas ao serem as folhas balançadas
pelo vento.
A menina cada dia mais se encantava com
toda a profusão de cores, formas e movimento e ali ficava horas e horas apreciando,
aquilo tudo. Sua mente vagava ao sabor das sombras e tecia belas imagens.
Sentia-se imensamente feliz com todo aquele espetáculo, que ficava inteiramente
à sua disposição. Dia após dia lá estava ela ou no balanço ou no sofá de vimes
que ficava no jardim, observando e se encantando.
Mal sabia ela que um jovem a estava
observando todos os dias, feito a raposa do pequeno príncipe, se punha a
esperá-la todos os dias à mesma hora e lá vinha ela alegre e saltitante, com
seu rabo de cavalo balançando para cá e para lá. Ele ficava fascinado,
encantado, cada um com a sua escolha, ela com o jardim e ele com ela...
Assim foram passando os dias, cada um com a
contemplação do seu encantamento, felizes só em olhar...
Porém um dia amanheceu chovendo cântaros e
nenhum pôde contemplar a sua paisagem e veio uma nostalgia imensa, pois já
contemplavam suas maravilhas há mais de quarenta dias consecutivos. O dia além
da chuva pareceu-lhes feio e triste e uma grande melancolia os dominou e
ficaram assim por todo o período da chuva, o pior é que chegou a data da menina
voltar para casa.
Foi embora inconsolável, mas imaginem o rapaz,
como ficou?! Pois não tinha mais a oportunidade de observar a menina no jardim,
desconsolado não conseguia mais trabalhar direito, pois estava desestimulado,
sua musa inspiradora desapareceu...
O tempo foi passando e uma grande nostalgia
tomou conta do rapaz e ele começou a definhar. Foi ao médico e ninguém
descobria a origem da doença, várias hipóteses foram aventadas e descartadas.
Supuseram que ele havia sido envenenado, fizeram exames e nada! O desespero
tomou conta da família e apelaram para benzedeiras e outros recursos, mas nada
modificava a saúde do rapaz e ele continuou minguando. Os pais não sabiam o que
fazer, tinham esgotado tudo que sabiam ou ensinavam e nada!
Nesse meio tempo o avô recebeu a visita da
neta, que comentou a estranheza que sentiu ao ver o jardim, tão largado e sem o
viço costumeiro. Seu avô lhe contou, que o jardineiro tão logo ela voltou para
casa no fim das férias adoeceu e nunca mais cuidou dele e que o caso era tão
grave, que estava internado na UTI. A menina ficou contristada com a notícia e
pediu ao avô que a levasse para ver o rapaz, que ela tanto tinha querido
conhecer e nunca tinha tido oportunidade.
O avô consultou a família, que lhe disse
que ele estava tão mal, que tinha ficado apático e não reagia mais às suas visitas,
portanto não sabia se era interessante receber essa visita desconhecida. A
menina insistiu tanto com o avô que ele acabou cedendo, afinal ele não ia saber
mesmo, que ela ia estar lá!
Quando a menina chegou à UTI, só viu uma
linha sob o lençol, pois de tão magro nem parecia gente. Ela condoída,
debruçou-se sobre ele e disse-lhe – Muito obrigado pelo belo jardim que você
fez na casa do meu avô, era o espetáculo mais belo que eu admirava dia a dia
nas minhas férias, pena que agora ele está definhando com saudades de você!
Nesse exato momento um sorriso surgiu nos
lábios do rapaz e abriu os olhos e qual não foi o seu espanto ao vê-la tão
linda como quando a via através das plantas, só que agora inclinada sobre ele.
O rapaz agradeceu-lhe num fio de voz, pois
não tinha nem forças para falar de tão debilitado e disse que estava com fome.
A enfermeira atônita trouxe-lhe uma canja de galinha, que a menina ofereceu-se
para lhe dar e ele comeu tudo, bem devagar, pois estava muito fraco, mas feliz,
pois era ela que estava ali, o seu anjo benfazejo. Ninguém acreditava que ele
fosse comer, mas comeu e todos ficaram encantados.
A partir daquele dia a menina ia todos os
dias fazer visita ao rapaz e ele foi-se recuperando, sem que ninguém atinasse
com o motivo da sua doença, só ele sabia que era a saudade que o estava
matando.
Depois que se recuperou, voltou a trabalhar
no jardim do avô da menina e se tornou grande amigo dela e os dois contemplavam
agora juntos as belezas que lhes agradavam.
fin
JACKIE ESSA ONÇA É EM HOMENAGEM AO SEU COMENTÁRIO...