“O Carneiro que se
Perdeu nas
Ramificações da
Estrada”
CONTO CHINÊS
O
Período da Guerra entre os Estados na China foi um período em que muitos
pensadores famosos viveram. Haviam inúmeros grandes sábios naquela época, e
entre eles, Yang-Chu, mais conhecido como Yang-Tse.
Acontece
que Yang-Tse defendia a teoria do interesse e respeito próprio. Sua filosofia
era oposta à de Mao-Tse, seu contemporânea, que defendia o amor universal
altruísta e o conceito de benevolência. Yang-Tse acreditava que cada pessoa
devia muito a si mesma.
Outro
contemporâneo, Mencius, criticava fortemente Yang-Tse dizendo que Yang-Tse não faria
o mínimo esforço para tecer crítica alguma ao mundo. Entretanto, Yang-Tse
estava realmente enfatizando a importância da auto-estima e do interesse em si
mesmo num sentido holístico.
A
fábula que será contada aqui vem de seus escritos, os quais tiveram forte
influência sobre Lao-Tse.
Houve
um dia em que um dos vizinhos de Yang-Tse perdeu um de seus carneiros. O
vizinho enviou todos os seus empregados em busca do carneiro, e ele mesmo os
acompanhou. Quando soube do que se passava, Yang-Tse ficou muito surpreso e
disse ao vizinho:
- Você
perdeu apenas um carneiro. Por que está mobilizando tanta gente para procurar
um só animal?
E o
vizinho respondeu:
- É
porque há tantas bifurcações e ramificações que saem desta estrada que eu não
sei qual delas ele poderia ter seguido. Assim, preciso mandar uma pessoa
procurar em cada uma delas.
Yang-Tse
sentiu-se tocado e mandou seu próprio servo ajudá-los na busca pelo carneiro.
Após um dia inteiro de busca sem resultados o servo voltou. Yang-Tse perguntou-lhe se
haviam achado o carneiro ou não. E o servo disse que não.
Yang-Tse
ficou ainda mais surpreso e perguntou:
- Como
é que tantos homens podem sair em busca de um animal e não conseguirem achá-lo?
Seu
servo respondeu:
- Além
das muitas ramificações que saem da estrada que sai logo de frente da casa de
nosso vizinho, há muitas ramificações que se originam de cada ramificação da
estrada principal. É impossível prever qual foi o caminho que o carneiro
seguiu. Assim, devemos voltar e procurar em cada um deles e cada vez mais longe
devido ao tempo que ele já transcorreu.
Yang-Tse
agora parecia estar profundamente conturbado. Ele caiu em silêncio e
concentrou-se em seus pensamentos. Seus discípulos, tendo testemunhado o
ocorrido, ficaram preocupados e decidiram ir ter com ele.
Mestre!
É só um carneiro perdido, e ele nem mesmo é seu carneiro. Esse assunto não
deveria tomar seu tempo ou se tornar uma preocupação para o senhor.
Yang-Tse
os encarou nos olhos e disse:
- Vocês
não compreendem nada! O que me entristece não é o carneiro que se perdeu, mas
as bifurcações que fizeram com que ele se perdesse, é para elas que dirijo o
meu pensamento. O mesmo acontece com nossos objetos de estudo. Quando os
seguimos, se nos faltar concentração e determinação, se nos faltar uma direção,
buscando nosso conhecimento sem um objetivo claro, não seremos como o
carneirinho que se perdeu nas ramificações da estrada? Não estaremos desperdiçando
o tempo precioso de nossas vidas? E quando falo de nosso conhecimento e
sabedoria, não devemos nos esforçar para atingir um objetivo grande demais, ou
tentar obter muitas coisas ao mesmo tempo, pois, se assim o fizermos, havemos
de nos perder assim como o pobre carneirinho, e ninguém conseguirá nos achar
para nos trazer de volta.
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