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sábado, 27 de novembro de 2010
Assalto a Banco
Alô? Quem tá falando?
— Aqui é o ladrão.
— Desculpe, a
telefonista deve ter se enganado, eu não queria falar com o dono do banco. Tem
algum funcionário aí?
— Não, os funcionário
tá tudo refém.
— Há, eu entendo.
Afinal, eles trabalham quatorze horas por dia, ganham um salário ridículo,
vivem levando esporro, mas não pedem demissão porque não encontram outro
emprego, né? Vida difícil... mas será que eu não poderia dar uma palavrinha com
um deles?
— Impossível. Eles tá
tudo amordaçado.
— Foi o que pensei.
Gestão moderna, né? Se fizerem qualquer crítica, vão pro olho da rua. Não
haverá, então, algum chefe por aí?
— Claro que não
mermão. Quanta inguinorânça! O chefe tá na cadeia, que é o lugar mais seguro
pra se comandar assalto!
— Bom... Sabe o que
que é? Eu tenho uma conta...
— Tamo levando tudo, ô
bacana. O saldo da tua conta é zero!
— Não, isso eu já
sabia. Eu sou professor! O que eu queria mesmo era uma informação sobre juro.
— Companheiro, eu sou
um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é pequeno. Assalto a banco, vez ou outra
um seqüestro. Pra saber de juro é melhor tu ligá pra Brasília.
— Sei, sei. O senhor
ta na informalidade, né? Também, com o preço que tão cobrando por um voto hoje
em dia... mas, será que não podia fazer um favor pra mim? É que eu atrasei o
pagamento do cartão e queria saber quanto vou pagar de taxa.
— Tu tá pensando que
eu tô brincando? Isso é um assalto!
— Longe de mim pensar
que o senhor está de brincadeira! Que é um assalto eu sei perfeitamente;
ninguém no mundo cobra os juros que cobram no Brasil. Mas queria saber o número
preciso: seis por cento, sete por cento?
— Eu acho que tu não
tá entendendo, ô mané. Sou assaltante. Trabalho na base da intimidação e da
chantagem, saca?
— Ah, já tava esperando.
Você vai querer vender um seguro de vida ou um título de capitalização, né?
— Não...já falei...eu
sou... Peraí bacana... hoje eu tô bonzinho e vou quebrar o teu galho.
(um minuto depois)
— Alô? O sujeito aqui
tá dizendo que é oito por cento ao mês.
— Puxa, que incrível!
— Incrive por que? Tu
achava que era menos?
— Não, achava que era
mais ou menos isso mesmo. Tô impressionado é que, pela primeira vez na vida, eu
consegui obter uma informação de uma empresa prestadora de serviço pelo
telefone em menos de meia hora e sem ouvir 'Pour Elise'.
— Quer saber? Fui com
a tua cara. Acabei de dar umas bordoadas no gerente e ele falou que vai te dar
um desconto. Só vai te cobrar quatro por cento, tá ligado?
— Não acredito! E eu
não vou ter que comprar nenhum produto do banco?
— Nadica de nada, já
ta tudo acertado!
— Muito obrigado, meu
senhor. Nunca fui tratado dessa...
(De repente, ouvem-se
tiros, gritos)
— Ih, sujou! Puliça!
— Polícia? Que
polícia? Alô? Alô?(sinal de ocupado)
— Droga! Maldito
Estado: quando o negócio começa a funcionar, entra o Governo e estraga tudo!
Luís Fernando Veríssimo
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