quinta-feira, 27 de abril de 2017

LEON ELIACHAR - MULHER QUE SE PREZA NÃO MENTE: INVENTA VERDADES

MULHER QUE SE PREZA NÃO MENTE: INVENTA VERDADES

LEON ELIACHAR


Resultado de imagem para MULHEREnquanto o homem inventa foguetes para ir à Lua, a mulher inventa macetes para viver na terra. Sua capacidade inventiva a coloca entre os seres mais evoluídos do mundo, incluindo nisso o próprio homem, ou melhor, alguns homens, ou mais precisamente: o seu marido. Desde a maçã de Eva, até os tempos de hoje, que a mulher não dá tréguas à sua mirabolante imaginação, criando, com a sua inesgotável fonte de sagacidade, algumas das mais engenhosas invenções da humanidade, como o bolo, a tia, o dentista, a irmãzinha menor, o telefone enguiçado, o extravio, a cabeça lavada – e até mesmo o etc. O bolo foi inventado para as situações difíceis. Para evitar o outro bolo, o posterior, cujas consequências ela não pode prever, usa o primeiro. A tia foi inventada para casos de doença, onde a mulher vai repousar. Mulher que passa o dia na casa da tia não é vista por ninguém, mas em caso de desconfiança a tia é o mais perfeito álibi que se possa imaginar. O dentista, que hoje evoluiu e tentou tomar o nome de odontologista, mas que não pegou, porque a mulher que passa a tarde toda na rua nunca vai ao odontologista, mas sim ao dentista, entre outras coisas, tem a vantagem de tratar dos seus dentes. A irmãzinha menor serve de pretexto, não só para evitar certos abusos de certos cavalheiros cuja companhia ela adora para levá-la ao cinema, como inclusive para chegar cedo em casa, deixar a irmãzinha – e sair de novo com o abusado de quem ela gosta. O telefone enguiçado não passa de um telefone bom que a mulher põe fora do gancho e vai pra casa da vizinha receber os telefonemas que lhe interessam – e só assim fica livre daquele noivo chato que lhe telefona diariamente e não decide coisa nenhuma. No dia seguinte, ela toma a iniciativa de reclamar do noivo. A falta de consideração, pois ela de cama, sem poder levantar, e ele nem sequer um telefonema – e não adianta explicar coisa nenhuma porque essa historia de dizer que o telefone estava ocupado é uma chapa muito batida, pode perguntar pra vovó, que ficou ao meu lado a noite inteirinha e ninguém nem pegou no telefone, e o noivo, completamente desmoralizado, encontra a saída do então o seu telefone estava enguiçado – e isso ainda rende uma cestinha de flores. O extravio é o invento mais genial dos últimos anos porque antes mesmo do homem inventar o correio, já ela – a mulher – havia bolado o extravio. Só assim ela pode ir à praia, ao cinema, à sorveteria, à costureira, à manicure, não lhe sobrando o mínimo tempo para escrever uma cartinha ao namorado que está fora – e por mais que o homem conheça a mulher, não resta dúvida que ele conhece muito mais o correio. A importância do extravio na vida de uma mulher é tão grande que as estatísticas acusam anualmente um grande índice de juventude extraviada. A cabeça lavada é um pretexto pra mulher não sair e passar a noite jogando biriba com as amigas. Mulher que lava a cabeça todo dia, não tenha dúvida: é viciada em jogo.

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QUEM FOI?

Leon Eliachar (Cairo, 12 de outubro de 1922 — Rio de Janeiro, 01 de junho de 1987) foi um jornalista de humor e escritor brasileiro nascido no Egito.
Veio para o Brasil muito pequeno e viveu quase toda a sua vida no Rio de Janeiro, onde morreu assassinado. Segundo notícias da época, ele foi assassinado a mando de um rico fazendeiro paranaense com cuja esposa o autor vinha mantendo um romance.
Jornalista desde os 19 anos de idade, trabalhou em diversos jornais e revistas, fixando-se, por último, no Última Hora, onde mantinha uma página com o título de Penúltima Hora. Justificava o nome da página com a legenda "um jornal feito na véspera".
Foi colaborador dos roteiros de dois filmes carnavalescos, e autor de programas de rádio e secretário da revista Manchete.
Em 1956 foi laureado com o primeiro prêmio na IX Exposição Internacional de Humorismo realizada na Europa, em Bordighera, na Itália.

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