O VASO
DE OURO
LUIZ
CORONEL.
"O
cavalo verde"
EDITORA
MECENAS, 2002.
-
Mas que tal, tchê? E as Exposições, muita festa e coisa e tal?
-
Bicho velho, nem te conto. Numa noite me enfezei com umas muchachas e saí a la
gandaia. Terminei numa casa de tais requintes, que quando fui soltar as
virilhas o vaso era de ouro. Ouro maciço, Elpídio. Até me deu um
constrangimento.
-
Manoelito, menos, por favor. Não te retruco, nem te contradigo, mas vamos botar
esse vaso de ouro por conta dos tragos, mano velho.
-
Tchê, tu sabes, se há uma coisa que me embrulha a alma e arrepia os pêlos é
duvidarem de mim. Vamos apostar? A gente vai junto à capital. Mijamos no vaso
de ouro, escolho um cavalo crioulo dos teus e, afora isso, uma garrafa de
Ballantines. Não mijamos, babaus, o ganho é teu.
E
o rebanho dos dias entrando no corredor das semanas. Um dia, desses que
aparecem pendurados nas folhinhas, lá estavam o Elpídio e o Manoelito no Hotel
Umbu. O nome já era uma garantia contra os raios. E saíram pela noite, os
alarifes.
Um
uísque, aqui não é. Um acepipe e dois uísques, também não. E vamos em frente,
que casa noturna é o que não falta. E, afinal de contas, a noite é uma criança.
Lá
pelas três da madruga, entraram numa espelunca onde a música deflorava os
tímpanos e refestelava as pinguanchas.
Mas
foi o Manoelito botar o pé no salão, que veio o grito desaforado de um tal de
Manchinha, cantor da banda fuzarqueira:
-
Mutuca, Mutuca, olha o cuera que mijou no teu trambone.
E
foi aquele pega pra capar. Voltaram contritos para Dom Pedrito. Até hoje
ninguém sabe quem pagou quem. Agora, é frequente ver os dois comparsas,
sentados, numa cadeira de rua, tomando umas que outras de Ballantines.
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