quarta-feira, 7 de abril de 2021

LUIZ CORONEL - O VASO DE OURO

 O VASO DE OURO
LUIZ CORONEL.
"O cavalo verde"
EDITORA MECENAS, 2002.

         - Mas que tal, tchê? E as Exposições, muita festa e coisa e tal?
         - Bicho velho, nem te conto. Numa noite me enfezei com umas muchachas e saí a la gandaia. Terminei numa casa de tais requintes, que quando fui soltar as virilhas o vaso era de ouro. Ouro maciço, Elpídio. Até me deu um constrangimento.
           - Manoelito, menos, por favor. Não te retruco, nem te contradigo, mas vamos botar esse vaso de ouro por conta dos tragos, mano velho.
           - Tchê, tu sabes, se há uma coisa que me embrulha a alma e arrepia os pêlos é duvidarem de mim. Vamos apostar? A gente vai junto à capital. Mijamos no vaso de ouro, escolho um cavalo crioulo dos teus e, afora isso, uma garrafa de Ballantines. Não mijamos, babaus, o ganho é teu.
       E o rebanho dos dias entrando no corredor das semanas. Um dia, desses que aparecem pendurados nas folhinhas, lá estavam o Elpídio e o Manoelito no Hotel Umbu. O nome já era uma garantia contra os raios. E saíram pela noite, os alarifes.
        Um uísque, aqui não é. Um acepipe e dois uísques, também não. E vamos em frente, que casa noturna é o que não falta. E, afinal de contas, a noite é uma criança.
Lá pelas três da madruga, entraram numa espelunca onde a música deflorava os tímpanos e refestelava as pinguanchas.
Mas foi o Manoelito botar o pé no salão, que veio o grito desaforado de um tal de Manchinha, cantor da banda fuzarqueira:
       - Mutuca, Mutuca, olha o cuera que mijou no teu trambone.
         E foi aquele pega pra capar. Voltaram contritos para Dom Pedrito. Até hoje ninguém sabe quem pagou quem. Agora, é frequente ver os dois comparsas, sentados, numa cadeira de rua, tomando umas que outras de Ballantines.


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