O GRAMÁTICO ARREPENDIDO
CIDADE DE JERUSALÉM
Havia na cidade de Sijistán um senhor que estudava
gramática. Certo dia, ele disse ao filho:
- Sempre que você quiser falar alguma coisa,
consulte sempre a sua inteligência, pense a respeito com muito cuidado a fim de
retificar a frase e somente então pronuncie as palavras, corretas e muito bem
medidas.
Então, certo dia de inverno, enquanto ambos estavam
sentados juntos diante de uma fogueira crepitante, uma brasa caiu no manto de
seda com o qual o pai se cobria; ele estava distraído, mas o filho, que viu o
ocorrido, calou-se por alguns instantes, pensativo, e depois disse:
- Papai, quero dizer uma coisa, o senhor me
autoriza?
O pai respondeu:
- Se for verdade, fale.
O filho disse:
- Creio que seja verdade.
O pai disse:
- Fale.
O menino disse:
- Vejo algo vermelho.
O pai perguntou:
- O que é?
O menino respondeu:
- Uma brasa que caiu em seu manto!
Então o pai olhou para o manto, do qual uma parte
já se queimara. Perguntou ao filho:
- E por que não me falou depressa?
O menino respondeu:
- Refletí a respeito como o senhor ordenou, em
seguida retifiquei as palavras, e só então as pronunciei!
O pai jurou solenemente que nunca mais falaria
sobre gramática.
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ANOITECER |
Extraído de Histórias para ler sem pressa, escolhidas e traduzidas do árabe por Mamede
Mustafa Jarouche, que obteve o Prêmio Jabuti pela tradução de "As
mil e uma noites", diretamente do árabe para português.
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