terça-feira, 24 de março de 2020

CONTOS ÁRABES - O GRAMÁTICO ARREPENDIDO

O GRAMÁTICO ARREPENDIDO    
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CIDADE DE JERUSALÉM

Havia na cidade de Sijistán um senhor que estudava gramática. Certo dia, ele disse ao filho:
- Sempre que você quiser falar alguma coisa, consulte sempre a sua inteligência, pense a respeito com muito cuidado a fim de retificar a frase e somente então pronuncie as palavras, corretas e muito bem medidas.
Então, certo dia de inverno, enquanto ambos estavam sentados juntos diante de uma fogueira crepitante, uma brasa caiu no manto de seda com o qual o pai se cobria; ele estava distraído, mas o filho, que viu o ocorrido, calou-se por alguns instantes, pensativo, e depois disse:
- Papai, quero dizer uma coisa, o senhor me autoriza?
O pai respondeu:
- Se for verdade, fale.
O filho disse:
- Creio que seja verdade.
O pai disse:
- Fale.
O menino disse:
- Vejo algo vermelho.
O pai perguntou:
- O que é?
O menino respondeu:
- Uma brasa que caiu em seu manto!
Então o pai olhou para o manto, do qual uma parte já se queimara. Perguntou ao filho:
- E por que não me falou depressa?
O menino respondeu:
- Refletí a respeito como o senhor ordenou, em seguida retifiquei as palavras, e só então as pronunciei!
O pai jurou solenemente que nunca mais falaria sobre gramática.
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ANOITECER
Extraído de Histórias para ler sem pressa, escolhidas e traduzidas do árabe por Mamede Mustafa Jarouche, que obteve o Prêmio Jabuti pela tradução de "As mil e uma noites", diretamente do árabe para português.