A LENDA DO LAGO DE SZIRA
MALBA TAHAN
NOVAS LENDA ORIENTAIS, PGS.77 A 79;BEST SELLER, 2009
TÁRTAROS MASSACRADOS PELA HORDA DE GENGIS KHAN |
Nas imensas planícies geladas da Sibéria,
muitas léguas distante da pitoresca Korelinsk, existe um lago – Szira-Kul -,
reservatório imenso da águas salgadas, no fundo do qual o professor Iezhov,
geólogo russo, descobriu as ruínas de antiqüíssima cidade.
Como explicar a existência daqueles
paláciose templos sepultados nas profundezas do lago de Szira?
Interessante e sugestiva lenda tártara
explica a origem das misteriosas ruínas que dormem sob o tranqüilo lençol das
águas do famoso lago siberiano.
Ouçamos a curiosa fantasia.
Reza a lenda que no vale estreito, que as
águas do Szira cobrem atualmente, existia, outrora, próspera e rica cidade
habitada pelos tártaros Ouigur – povo guerreiro que chegou a dominar grande
parte da Ásia Central. Em suntuoso templo dessa rica metrópole encontrava-se,
sob grande laje, sepultado o corpo de Almagor, o último rei Ouigur.
Quis o destino que os mongóis DE Gengis Khan
invadissem os domínios de Almagor. Atacado pelo poderoso inimigo, a cidade foi
facilmente vencida e saqueada. Os bárbaros conquistadores massacraram os homens
e escravizaram as mulheres.
No dia em que a cidade caiu em poder dos
mongóis, rompeu-se, como por encanto, a pedra que cobria o túmulo do rei
Almagor. A sombra imponente desse monarca surgiu e fez-se ouvir, lúgubre,
impressionante a sua voz:
- Chorai, ó mulheres tártaras! Chorai
lágrimas salgadas de aflição e desespero! Chegou o último dia do povo Ouigur!
Sensibilizadas com as palavras do rei tão
querido, que o amor à pátria fizera erguer da tumba, as mulheres puseram-se a
chorar. E prantearam suas amarguras, dia e noite, sem descanso. Ordenaram os
vencedores que elas dessem fim àquelas lamentações aflitivas. As mulheres de
Ouigur, porém, não atenderam à intimação dos tiranos e continuaram com seus
gemidos e soluços. Era ordem do rei Almagor, e que faziam elas senão obedecer ao
rei?
Os guerreiros de Gengis Khan exasperados
com aquelas lamúrias intermináveis e impelidos por indomável furor sanguinário,
degolaram, sem piedade, todas as prisioneiras. As infelizes escravas, porém,
mesmo depois de mortas, continuaram a chorar incessantemente, e as lágrimas
ardentes e abundantes, em gotas e gotas sem fim, formaram caudalosa corrente.
Esse rio de prantos invadiu o vale, submergindo jardins, palácios e mesquitas
luxuosas.
Surgiu, assim, formado pelas lágrimas das
inditosas esposas tártaras, o lago de Szira, em cujo seio dorme, para sempre, a
cidade de Almagor.
E ainda hoje (afirmam os menos incrédulos)
o viajante que se aproxima, no silêncio da noite, das margens do famoso lago
ouve o eco de estranho clamor, longínquo e misterioso, que se perde pelas
estepes geladas. É a voz do rei Almagor no seu último e desesperado apelo:
- Chorai, ó mulheres tártaras, chorai!
Ao geólogo (asseguram os sábios
pesquisadores), ao geólogo é mais fácil, talvez, acreditar nesta lenda do que
descobrir, dentro dos ditames, postulados e princípios da ciência, uma hipótese
capaz de explicar a origem daquelas ruínas misteriosas que repousam no fundo de
um lago gelado em meio da planície siberiana.
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