argelina
Jone Pimenta
Argelina, na visão do Agenor, era um saco!
Sempre
reclamando das coisas.
-Não,
Agenor, a toalha tem que ficar dobrada pra dentro!!
-Aí
não Agenor, corta na pia pra não fazer sujeira.
Vinte
anos de casado!!
Vinte
anos de reclamação!!
Ninguém
merece!!
Se
pudesse, sumia.
Separar?
Nem pensar.
Uma
coisa que não dá pra se livrar é de ex-mulher.
Não ia pagar pensão pra bruaca. Ainda mais sabendo
que Argelina pegava dinheiro escondido da sua carteira e guardava na poupança.
-Pelamordedeus Agenor!! Olha onde você
deixou o sapato!!!
Se pelo menos alguma alma bondosa
seqüestrasse a infeliz.
-
Como não pensei nisso antes? Seqüestro!!
Vou me se-qües-trar!!!! Dou um susto na
desgraçada, recupero o dinheiro da poupança e volto como um herói de guerra.
Tratado
a pão-de-ló!!
Naquela noite não pregou o olho planejando
o próprio rapto.
Levantou
mais cedo do que o normal.
Mais
alegre do que o normal.
Mais
rápido do que o normal.
Enquanto Argelina foi ao banheiro, colocou
três cuecas e duas camisetas na sua malinha executiva.
-Vai
que a negociação é demorada, pensou .
Tomou café, resmungou um adeus e saiu
deixando a mulher a reclamar dos farelos de pão na cadeira.
No
meio da tarde o telefone tocou. Argelina odiava atender.
O
telefone insistiu. Argelina atendeu de mau humor.
-Alô?
-Sequestramo
seu marido!
Era o Agenor fazendo voz rouca num orelhão,
com o fone enrolado num saquinho de supermercado pra não ser reconhecido.
-Quem?
-Que
marido?
-O
Agenor!!
-Sequestraram
o Agenor?
-É!
E queremo vinte mil pra libertar ele.
-Ele
tá vivo?
-Tá
! Mas se chamá a polícia nóis apaga ele!!
-Tá
bom, moço, eu pago.
Agenor
sorriu e pensou convencido: – Ela me ama!!
-Mas
eu quero uma prova de que ele tá vivo!
-Quer
falar com o cara?
-Não!
Você pode querer me enganar imitando a voz dele.
-Então
o quê?
-Quero
o dedo do meio da mão dele. O que tem uma pinta com pelinho. Manda aqui pra
casa que eu pago.
E
desligou o telefone.
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