NOTA: HÁ CONTO INDU COM OS MESMOS PERSONAGENS E PRATICAMENTE
A MESMA HISTÓRIA, SÓ QUE O DESFECHO DESTA HISTÓRIA, PARECEU-ME MAIS COMPLETO E
HUMANO, POR ISSO O ELEGI PARA TRANSCREVER DO LIVRO O
PRÍNCIPE MEDROSO E OUTROS CONTOS AFRICANOS DE ANNA SOLER-PONT
OS DOIS REIS DE GONDAR
CONTO AFRICANO
- Eu
me pedi pela montanha e estou procurando o caminho que leva à cidade de Gondar.
-
Gondar? Fica a dois dias daqui – respondeu o camponês – O sol já está se pondo
e seria mais sensato se você passasse a noite aqui e partisse de manhã cedo.
O
camponês pegou uma das suas três galinhas, matou-a, cozinhou-a no fogão a lenha
e preparou um bom jantar, que ofereceu ao caçador. Depois de comerem os dois
juntos sem falar muito, o camponês ofereceu sua cama ao caçador e foi dormir no
chão ao lado do fogo.
No
dia seguinte bem cedo, quando o caçador acordou, o camponês explicou-lhe como
teria que fazer para chegar a Gondar:
-
Você tem que se enfiar no bosque até encontrar um rio, e deve atravessá-lo com
seu cavalo com muito cuidado para não passar pela parte mais funda. Depois tem
que seguir por um caminho à beira de um precipício até chegar a uma estrada
mais larga...
O
caçador, que ouvia com atenção, disse:
-
Acho que vou me perder de novo. Não conheço esta região. Quando a gente chegar,
gostaria de conhecer o rei, eu nunca o vi.
-
Você irá vê-lo, prometo.
O
camponês fechou a porta da sua cabana, montou na garupa do caçador e começaram
o trajeto. Passaram horas e horas
atravessando montanhas e bosques, e mais uma noite inteira. Quando iam por
caminhos sem sombra, o camponês abria seu grande guarda-chuva preto, e os dois
se protegiam do sol. E quando por fim viram a cidade de Gondar no horizonte, o
camponês perguntou ao caçador:
- E
como é que se reconhece um rei?
- Não
se preocupe, é muito fácil: quando todo mundo faz a mesma coisa, o rei é aquele
que faz outra, diferente. Observe bem as pessoas à sua volta e você o
reconhecerá.
Pouco
depois, os dois homens chegaram à cidade e o caçador tomou o caminho do
palácio. Havia um monte de gente diante da porta, falando e contando histórias,
até que, ao verem os dois homens a cavalo , se afastaram da porta e se
ajoelharam à sua passagem. O camponês não entendia nada. Todos estavam
ajoelhados, exceto ele e o caçador, que iam a cavalo.
-
Onde será que está o rei? – perguntou o camponês. – Não o estou vendo!
-
Agora vamos entrar no palácio e você o verá, garanto!
E os
dois homens entraram a cavalo dentro do palácio. O camponês estava inquieto. De
longe via uma fila de pessoas e de guardas também a cavalo que os esperavam na
entrada. Quando passaram na frente deles, os guardas desmontaram e somente os
dois continuaram em cima do cavalo. O camponês começou a ficar nervoso:
- Você
me falou que quando todo o mundo faz a mesma coisa... Mas onde está o rei?
- Paciência!
Você já vai reconhecê-lo! É só lembrar que, quando todos fazem a mesma coisa, o
rei faz outra.
Os
dois homens desmontaram do cavalo e entraram numa sala imensa do palácio. Todos
os nobres, os cortesãos e os conselheiros reais tiraram o chapéu ao vê-los.
Todos estavam sem chapéu, exceto o caçador e o camponês, que tampouco entendia
para que servia andar de chapéu dentro de um palácio. O camponês chegou perto
do caçador e murmurou:
- Não
o estou vendo!
- Não
seja impaciente, você vai acabar reconhecendo-o! Venha sentar comigo.
E os
dois homens se instalaram num grande sofá muito confortável. Todo mundo ficou
de pé à sua volta. O camponês estava cada vez mais inquieto. Observou bem tudo
o que via, aproximou-se do caçador e perguntou:
- Quem
é o rei? Você ou eu?
O
caçador começou a rir e disse:
Eu
sou o rei, mas você também é um rei, porque sabe acolher um estrangeiro!
E o
caçador e o camponês ficaram amigos por muitos e muitos anos.