PORQUE O SOL E A LUA
FORAM MORAR NO CÉU?
SIKULUME E OUTROS CONTOS AFRICANOS, RJ,
PALLAS; 2005; ADAPTAÇÃO BRAZ, JÚLIO EMÍLIO
Há muito tempo, o sol e a água
eram grandes amigos e viviam juntos na Terra. Habitualmente o sol visitava a
água, mas esta jamais lhe retribuía a gentileza. Por fim, o sol quis saber qual
o motivo de seu desinteresse e a água respondeu que a casa do sol não era
grande o bastante para que nela coubessem todos com quem vivia e, se aparecesse
por lá, acabaria por despejá-lo de sua própria casa.
- Caso você queira realmente
que eu visite, terá que construir uma casa bem maior do que tem no momento, mas
desde já fique avisado de que terá que ser algo realmente muito grande, pois o
meu povo é bem numeroso e ocupa bastante espaço.
O sol garantiu-lhe que poderia
visitá-lo sem susto,pois trataria de tomar todas as providências necessárias
para tornar o encontro agradável para ela e para todos que a acompanhassem.
Chegando em casa, o sol contou à lua, sua esposa, tudo o que a água lhe pedira
e ambos se dedicaram com muito esforço à construção de uma casa enorme que
comportasse sua visita.
Quando tudo estava pronto, convidaram
a água para visitá-los.
Chegando a água ainda foi
amável e perguntou:
- Vocês têm certeza de que
realmente podemos entrar?
- Claro, amiga água! –
respondeu o sol.
A água foi entrando, entrando e
entrando, acompanhada de todos os peixes e mais uma quantidade absurda e
indescritivelmente grande, incalculável mesmo, de criaturas aquáticas. Em pouco
tempo a água já se encontrava na altura dos joelhos.
- Vocês estão certos de que
todos podem entrar? – insistiu, preocupada.
- Por favor, amiga água – insistiu
a lua.
Diante da insistência de seus
anfitriões, a água continuou a despejar sua gente para dentro da casa do sol. A
preocupação voltou quando ela atingiu a altura de um homem.
- Vai entrando, minha amiga,
vai entrando – o sol estava realmente muito feliz com a sua visita.
A água continuou entrando e
jorrando em todas as direções e, quando deram pela coisa, o sol e a lua
viram-se forçados a subir para o alto do telhado.
- Acho que devo parar... – disse a água, receosa.
- Acho que devo parar... – disse a água, receosa.
- O que é isso, minha água? –
espantou-se o sol, mais do que educado, sem esconder uma certa preocupação.